sábado, 7 de fevereiro de 2009

Pedagogia do Esporte

SOUZA, Adriano. & SCAGLIA, Alcides José. Pedagogia do Esporte. Modulo 2 Dimensões Pedagógicas do Esporte ( Ministério do Esporte ), Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.

Resenhado por Tânia Mara Suematsu Vagetti, cursista do curso de especialização-Esporte Escolar da Universidade de Brasília.

Hodiernamente fala-se muito sobre a falta de qualidade no ensino do esporte que é oferecido na escola, ou seja, nas praticas tradicionais, as quais são excludentes, seletivas, repetitivas e que tratam o corpo como máquina.

Para entender essas praticas vamos rever o constituir na nossa sociedade ocidental.

Segundo Peixoto no texto educação personalista, Emmanuel Mounier não escreveu nenhuma obra especifica sobre educação, mas que é possível relacioná-las, vejamos:

A racionalidade da herança iluminista-liberal tem sido a orientação hegemônica da sociedades ocidentais. Essa racionalidade tem procurado direcionar a ação do Estado,do mercado, das pessoas e das instituições em geral de forma que, os interesses do capital sejam garantidos. Isso faz com que a razão, assuma uma orientação meramente instrumental, voltada para a produção, dominação, alienação e para a exploração.

É uma idéia de razão que reduz o homem ao mundo das coisas, o destitui de sua humanidade.As diretrizes pedagógicas que adotam essa idéia de razão tem transformado a educação num instrumento de negação da pessoa.

A vertente liberal democrática ( Dewey ) trouxe contribuições importantes, como: a luta pela escola publica e gratuita, o fim do autoritarismo e a afirmação da liberdade do educando.Entretanto, suas perspectivas gerais apontam para a manutenção da ordem capitalista.

O protótipo da educação, para essa vertente, é a que garante a preparação do educando para que este consiga a ascensão social. Essa ascensão social será conseguida por aqueles que melhor desenvolverem seus talento. Com isso é admitida a seleção natural, em que os mais espertos ou mais fortes vencem.

Algumas propostas pedagógicas progressistas foram apropriadas pelos neoliberais, não como objetivo de se constituírem num meio de promoção e humanização dos homens como pessoas, mas como instrumento de promoção destes como indivíduos, preocupados apenas com o sucesso profissional, sem uma visão critica das estruturas geradoras das desigualdades sociais e, portanto, da exclusão.

Segundo um coletivo de autores, existem 2 classes , a trabalhadora e a proprietária. A trabalhadora luta por emprego, salário, alimentação, transporte, habitação, saúde, educação, enfim, as condições dignas de existência.A proprietária querem acumular riqueza, gerar mais renda, ampliar o consumo, o patrimônio.

Como se vê, os interesses de classe são diferentes e antagônicos.Nesse movimento de afirmação de os interesses acirra o conflito, o que vem provocar uma crise.E é exatamente dessa crise que emergem as pedagogias. A pedagogia é a teoria e método que constrói os discursos, as explicações sobre a pratica social e sobre a ação dos homens na sociedade, onde se dá a sua educação. Por isso a pedagogia teoriza sobre educação que é uma pratica social em dado momento histórico.

Uma pedagogia entra em crise quando suas explicações sobre a prática social já não mais convencem aos sujeitos das diferentes classes. Nessa, crise outras explicações pedagógicas vão sendo elaboradas, tal como Educação Personalista.

O personalismo é contra essa racionalidade que pensa, articula e institui a educação para a preservação da “desordem estabelecida”, é contra a educação que contribui, no cotidiano de sua prática, para a manutenção de uma ordem social excludente, desumana, despersonalizadora; é contra essa razão técnica que tem direcionado as políticas educacionais e as praticas pedagógicas para a preservação das estruturas da sociedade capitalista.

Mounier lançou um grito de alerta: “ Homem, acorda!” mostrando a necessidade do homem romper com seu mundo egoísta, fechado e acomodado, para se comprometer com projetos de transformação da sociedade de modo que fosse criada uma sociedade mais justa e humana.

O modulo 2 ,unidade l, os autores apresentam a pedagogia do esporte, apontando caminhos para um redirecionamento da área, uma vez que as pedagogias utilizadas não atendem a sociedade neste momento histórico.

Se pedagogia é uma reflexão sobre todo o contexto que envolve a ação educativa, onde possa efetivar uma pratica de intervenção comprometida, intencional, dirigida, organizada e ciente de suas responsabilidades educacionais ( p.9) A pedagogia do esporte não deve ser diferente, ou seja deve sempre contemplar ações educativas no ensino do esporte tais como: generosidade, respeito as regras e adversários ,tomada de consciência sobre a praticado esporte e sua ideologia, entre outras.Também é necessário que os profissionais da área realizem intervenções adequadas, sendo um facilitador da aprendizagem, cientes das suas responsabilidades e que possam responder pedagogicamente: como ensinar esportes, o que ensinar, para quem, e por que ensinar.

O ato de ensinar não pode ser considerado tarefa simples de transmissão de conhecimento ou imitação de gestos e segundo Libâneo que negam contextos e responsabilidades sociais e de formação de cidadãos (p 11)

De acordo com os autores ensinar esportes deve ser entendido como uma pratica pedagógica, desenvolvida dentro de um processo de ensino-aprendizagem, que leve em conta o sujeito aluno, seu contexto, alem de seus vários ambientes relacionáveis, criando possibilidades para a construção desse conhecimento, inserindo e fazendo interagir o que o aluno já sabe com o novo, ampliando-se assim, sua bagagem cultural. (p13)

A pedagogia tradicional está caracterizada pela repetição exaustiva de gestos, e movimentos na busca da automatização, na valorização da técnica como única forma eficiente, na seletividade, pois nem todos os alunos conseguem reproduzir os movimentos, e no ensino fragmentado que vão dos fundamentos ao jogo em si.

As abordagens inovadoras estão caracterizada pela resolução de problemas onde os alunos são instigados a explorar e criar respostas motoras, é respeitado a competência interpretativa através dos graus de dificuldades adequadas ao nível dos alunos, aprende-se a jogar jogando, é oferecido ao aluno autonomia para buscar no seu acervo diversas possibilidade de respostas.(p 46)

Algumas da ofensivas pedagógicas ao ensino do esporte,são:

Proposta Julio Garganta e outros autores portugueses é agrupar os jogos coletivos que apresentam semelhanças, por exemplo handebol, basquete e futebol, os três exigem trabalho de resistência, velocidade, força e de coordenação táctica-técnica. Os conhecimentos adquiridos numa pratica podem ser transferidos para outro, assim “ o aluno percebe a estrutura de um jogo,uma identidade com uma estrutura já encontrada e que ele reconheceria no mesmo ou noutro JDC”(p 24 )

Proposta Werner, Thorp e Bunker, ensinando jogos pela compreensão (TGFU). Os professores devem propor atividades que sejam compatíveis com o nível de habilidade do aluno, e , assim mediante a desafios táticas, eles são levados a obter sucesso durante todo o processo de aprendizagem do jogo, sentindo-se competente a cada passo. Para isso, o professor pode e deve modificar os jogos, alterando regras e equipamento, criando um ambiente desafiador que leve os alunos a melhorarem suas habilidades e a rapidez nas tomadas de decisão no momento de solucionar um problema exigido por uma situação de jogo qualquer. Nesta proposta o ensinar vai do menos complexo, na seguinte ordem: jogos de alvo, jogos de passes, jogos de rede ou parede, jogos oficiais.(p 29}

Os autores do modulo propõem estratégias para organização didático-pedagógica da aula, sendo:1º momento- roda de conversa para que o professor exponha e explique a aula;2º momento- realização de um jogo adaptado dando ênfase a uma particularidade do jogo, trabalhado na aula anterior; 3º momento- exercitação de uma habilidade, não enfatizada na aula anterior; 4º momento- Realização de jogo formal; 5º momento- roda de conversa para avaliação e encaminhamentos. (p. 42 }

( Scaglia e Souza, 2002 ) encerram o modulo dizendo que a todo momento as abordagens inovadoras priorizam a autonomia e a tomada de consciência das ações engendradas ao longo do processo de ensino dos esportes. Alunos autônomos e detentores de ricos acervos de possibilidades de respostas para os jogos, conseqüentemente, desenvolverão sobremaneira suas respectivas inteligências para o jogo e , concomitantemente, para o mundo, pois só formaremos um cidadão independente, responsável e critico, quando esse entender consciente e competente para agir, interagir e resignificar a realidade em seu entorno. (p. 49).

Referências Bibliográficas

PEIXOTO, Adão Jose. Filosofia Educação e Cidadania. Campinas, Alínea, 2004.

LIBÂNEO, Jose Carlos. Pedagogia e Pedagogos, Para que?. São Paulo, Cortez, 2004.

Coletivo de Autores. Metodologia de Ensino de Educação Física (Coleção magistério 2º grau. Serie formação do professor). São Paulo, Cortez, 1992.

FREIRE, Paulo. Papel da Educação na humanização.(Internet).

Didática do Esporte

MEDEIROS, Mara. Didática do Esporte. Modulo 2 Dimensões Pedagógicas do Esporte (Ministério do Esporte) Brasília: Universidade de Brasília/CEAD,2004.

Resenhado por Tânia Mara Suematsu Vagetti, cursista do curso de especialização – Esporte Escolar da Universidade de Brasília.

Didática é uma disciplina que busca auxiliar o professor na direção e na orientação das suas tarefas docentes ( p 56 ), oferecendo instrumentos para que o professor possa realizar, de forma positiva, a organização do seu trabalho pedagógico. (p 61 )
Na Didática tradicional:o aluno é considerado um ser passivo, cujo papel é apenas escutar repetir e reter o conhecimento dado pelo professor.
Na Didática critica o aluno contribui para sua aprendizagem de forma ativa: seleciona, assimila, interpreta, generaliza informações sobre seu meio físico e social (Davis / Grosbaum – 2001 )
As mudanças na forma de compreender o papel do aluno implicou numa revolução na forma de conceber o ensino, alterando a postura do professor. Se antes cabia apenas transmitir o conhecimento de forma pronta e acabada, hoje espera-se que ele seja o mediador.
Medeiros (2004) com base nas competências estabelecidas por perrenoud, apresenta as competências necessárias para o professor de Educação Física, tais como:

1) Conhecimento da Educação Física no contexto da educação e da sociedade.

2) Conhecimento técnico-teórico-filosófico a respeito da pessoa humana.

3) Capacidade reflexiva para analisar os diversos fenômenos que compõem a prática cotidiana.

4) Capacidade de realizar sua formação continuada.

5) Capacidade de produzir conhecimento.

6) Capacidade de comunicar-se com seus interlocutores.

Para se desempenhar bem o papel de professor nesse novo contexto é fundamental uma mudança de postura, ou seja de dono absoluto do saber, o educador passa a ser o intermediário entre o conhecimento acumulado e o interesse e a necessidade do aluno.

Segundo o autor o fato de partir de uma concepção critica da Didática tradicional não significa estar negando procedimentos didáticos. Portanto o ato de planejar deve ser uma constante no nosso dia a dia , onde o “ por que “ é o objetivo, “o que” é o conteúdo e “como” é o método, cabendo a avaliação durante todo o processo. (p.65 e 67 )
O planejamento é uma preparação prévia de como atuar, ou uma antecipação dos resultados do trabalho docente.As três formas de planejamento são: plano da escola, plano de ensino e plano de aula.(p 68 )
O plano da escola, hoje apresentado como projeto-politico-pedagógico ou projeto-pedagógico-escolar, parte dos problemas e dificuldades que a escola enfrenta no seu dia a dia e com sua comunidade escolar discute e planeja ações a serem desenvolvidas a curto, médio e longo prazo para sanar as dificuldades e garantir qualidade de ensino e aprendizagem.
Souza e Marçal, definem o projeto pedagógico como instrumento teórico-metodológico que a escola elabora, de forma participativa, com a finalidade de apontar a direção e o caminho que vai percorrer para realizar, da melhor maneira possível, sua função educativa.
O plano de ensino ou plano de curso é a organização das atividades didáticas, deve conter: objetivos gerais, objetivos específicos, conteúdos, metodologia e formas de avaliação. (p 71)
O plano de aula é o que podemos chamar de um “detalhamento“do plano de ensino. A orientação para o objetivo de uma aula vem do plano de ensino, enquanto os conteúdos explicitados, também no plano de Ensino, são desmembrados e detalhados para serem trabalhados em uma ou mais aulas. (p 71 )
Planejar uma aula não é estabelecer uma relação de exercícios a serem aplicados.Esta relação de exercícios seria a parte referente a conteúdo. A aula supõe um objetivo claro, os conteúdos, o método e a avaliação, ainda que seja um documento simples.(p 72)
Tratando sobre comportamento ético no esporte a autora esclarece que ética diz respeito aos valores e as normas de condutas da sociedade, ou seja, a Ética é igual a princípios de conduta. (p89)
Portanto a conduta que se espera do professor é a sua responsabilidade perante a educação dos seus alunos e dos praticantes dos esportes espera-se que sejam justos, solidários e leais para com o próximo (p 90 e 91)
O professor deve estar atento para conter a reprodução de valores capitalistas presente no esporte, na medida que valoriza o individualismo a competitividade e a seletividade.
O professor deve ter uma visão critica para possibilitar a interrupção da cadeia de reprodução e iniciar o processo inverso, ou seja a transformação.(p 93)
A autora encerra a unidade tratando da diversidade e inclusão.
A diversidade na escola deveria ser vista como diferenças humanas positivas,pois as inúmeras culturas que se misturam no dia a dia, propiciam uma riqueza sem fim. No entanto por vezes as diferenças são confundidas com desigualdades e acaba por produzir inferioridade.
Neste sentido, a LDB (Brasil 1996), apesar de suas contradições, abre espaços para a construção de uma escola comprometida com a cidadania e com rejeição a exclusão.
Também os parâmetros curriculares nacionais ( PCN’s) (Brasil 1996), que servem de apoio às discussões e ao desenvolvimento dos projetos educativos da escola, reforçam a necessidade de construir uma educação básica que adote como eixo estrutural o principio da inclusão, apontando para uma perspectiva metodológica de ensino-aprendizagem que busque a cooperação e a igualdade de direitos.
Entretanto, para que essas idéias se tornem realidades não basta estar previsto em Lei. É preciso segundo Arrovo (1996) situar a escola na construção de um projeto político e cultural por um ideal democrático não só por relações de perda, de exclusão, de preconceitos e discriminações, mas também por processos de afirmação de identidade, valores, vivencias e cultura.
A Educação Física vinculada a Educação que busca a humanização, deve abandonar definitivamente os modelos arcaicos, representados pela exclusão dos portadores de necessidades especiais e por agregar o trabalho diferenciado entre meninos e meninas, etc...
É importante insistir que trabalhar com crianças “especiais” não requer uma especialização para “reduzir as deficiências”, mas aprimoramento pedagógico para que o professor possa identificar as dificuldade de seus alunos no sentido de mediar as suas relações com a escola. (p97)
Segundo Souza e Altmann, sendo gênero uma categoria relacional, há de se pensar sua articulação com outras categorias durante aulas de educação física, porque gênero, idade, força e habilidade formam um “emaranhado de exclusões” vividas por meninas e meninos na escola. Não se pode concluir que as meninas são excluídas de jogos apenas por questões de gênero, pois o critério de exclusão não é exatamente o fato de elas serem mulheres, mas por serem consideradas mais fracas e menos habilidosas que seus colegas ou mesmo que outras colegas.
Ademais, meninas não são as únicas excluídas, pois os meninos mais novos e os considerados fracos ou maus jogadores freqüentam bancos de reserva durante aulas e recreios, e em quadra recebem a bola com menor freqüência até mesmo do que algumas meninas.
Tais constatações mostram-nos que a separação de meninos e meninas nas aulas de educação física desconsidera a articulação do gênero com outras categorias, a existência de conflitos, exclusões e diferença entre pessoas do mesmo sexo, além de impossibilitar qualquer forma de relação entre meninos e meninas.
Devemos considerar que as desigualdades ocasionam as disputas e devemos rever as diferenças dentro do modelo da cooperação.
Que o professor seja capaz de realizar reflexões e questionamentos sobre a sua pratica, enfatizando o trabalho cooperativo e evitar a exclusividade da competição.

Referencias Bibliográficas


DAVIS, Claudia Leme Ferreira & CROSBAUM,Marta Wolak. Progestao: Como promover o sucesso da aprendizagem do aluno e sua permanência na escola?, Modulo IV. Brasília, CONSED, 2001.

SOUZA, Jose Vieira de & MARÇAL, Juliane Correa. Progestao: Como promover a construção coletiva do projeto pedagógico da escola? Módulo III. Brasília, CONSED,2001.

CARNEIRO, Moacir Alves. LDB fácil leitura critica – compreensiva artigo a artigo.Petrópolis, Vozes, 1998.

SOUZA, Eustáquia Salvadora, ALTMANN, Helena. Artigo: Meninos e meninas: Expectativa corporais e implicações na educação física escolar (internet).

SAVIANI, Nereide. Saber escolar, Currículo e Didática. Campinas, copyright,2003.

MACHADO, Nilson Jose. Epistemologia e Didática. São Paulo, Cortez, 2002.

COSTA, Marisa Vonaber. Currículo nos limiares do contemporâneo, Rio de Janeiro, Cortez,1999.