domingo, 22 de junho de 2008

Indignação

Hoje ao assistir a um programa esportivo na TV, me senti indignada com a forma que o esporte é conduzido em Ji-Paraná. Estava sendo comemorado um aniversario de l8 anos de uma escolinha esportiva que tem 300 crianças, nas categorias mamadeira, fraldinha e etc... É extremamente chocante crianças que aos 4 anos, ainda de fraldas, disputam uma partida de futsal, obedecendo regras oficiais do esporte e com arbitro. Pior ainda é ver tantas autoridades presentes, apreciando uma situação de especialização precoce, perigosa, que segundo Leite (2007) causa danos: neuro-fisiológicos, anatômicos, psicológicos, filosóficos e sociais. Vale lembrar Santana (2001) quando diz que muitas são as crianças que iniciaram precocemente no futsal e, por uma lesão grave, estresse de competição, treinamento, desinteresse, saturação, o abandonaram também precocemente.
Qual será a alternativa correta?
- Autoridades não sabem o que é especialização precoce?
- Autoridades não sabem o que é exercício ilegal da profissão?
- Falta para o profissional de Educação Física desenvolver um trabalho de conscientização da população sobre os perigos da pratica esportiva ministrada por pessoas sem preparo?
- Falta para os profissionais de Educação Física se filiarem em 100% no CREF , pagando em dia a anuidade, para reivindicar uma fiscalização e fazer valer uma Lei que não vem sendo cumprida e ainda é aplaudida por autoridades?
- Falta profissional de Educação Física para assumirem o trabalho de escolinhas esportivas, por tanto devo enquanto especialista capacitar os leigos?
Aguardo sua resposta, mas a tempo ainda gostaria de discutir com você o seguinte: Uma professora de Educação Física formada, funcionaria do governo a quase 25 anos, não pode levar seus alunos no CER regional, por falta do CREF, no entanto ela convive com a situação acima citada a menos de 50 metros da sua escola. Será que o CREF está sendo cobrado só para nós professores?
Profª Tânia

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Recadinho

Estou muito feliz com o nº de pessoas que acessaram o blog, mas gostaria muito que vcs colegas deixassem um comentário no texto, só assim poderemos interagir. Não esqueçam que este espaço é nosso e todas as opiniões são de grande importância. bjs, Tania.

domingo, 15 de junho de 2008

A dança folclórica da nossa região

l. Selecionando uma dança;
2. Aprofundando nossa pesquisa;
3. Os ensaios e a preparação para a apresentação;
4. A Avaliação.

1. Selecionando uma dança
a) Interesse: Música, movimentos, estória.
b) Passos e coreografia de fácil execução: Espanholas, japonesas, judaicas, árabes.
c) Instrumentos musicais e música: Habilidade para tocar instrumentos, música gravada.
d) Indumentária (arte do vestuário ): figurino é financeiramente mais acessíveis.

2. Aprofundando nossa pesquisa
a) Agora que você já selecionou a dança folclórica que mais lhe interessou aprofunde seus conhecimentos: Registre tudo o que você observou, inclusive com desenhos, fotos e filmagem.

b) Enredo: Sobre o que fala esta dança – estória , celebração festiva, ela fala de fatos ou sentimentos.

c) Personagens: Possuem nomes? Quais suas classes sociais? Como eles se relacionam ( disputam poder, se amam, são personagens religiosos, reis , etc.

d) Figurinos: é copia do vestuário da época ou sofreram transformação. Há alguma significação nas cores do figurino.

e) Adereço e objetos: Há bonecos, como no maracatu?; guisos, bandeiras, etc...O que representam? De que material são feitos?

f) Maquiagem, cabelos: Há uma maquiagem especial? São industrializadas ou da natureza? E nos cabelos, há enfeites?

g) Musicas: A letra das canções são uma forma de falar de um grupo social em especial ( negros, portugueses, índios?)

h) Instrumentos musicais: Quais os instrumentos utilizados? E seus nomes? Como são tocados?

i) Época histórica : Quando surgiu a dança? Ela representa um período histórico? Ela retrata algum acontecimento especifico?

j) Época do ano: Ela é dançada em alguma época especifica? ( colheita, festa religiosa, natal, páscoa, etc...)

k) Pessoas: Quem as dançava na época em que surgiu? (camponeses, escravos, índios, europeus, trabalhadores, burguesia) e quem as dança na atualidade? Com qual finalidade? ( ritual, festa, manutenção da cultura). Tem caráter religioso ou profano?

L) Movimentos: Observe e registre a coreografia; procure perceber de que parte do corpo partem os movimentos dessa dança ( pés, quadris, braços, coluna, mãos).

3) Os ensaios e a preparação para a apresentação
Funções num espetáculo:
A – Direção do espetáculo – Acompanha de “fora”, é ele que dará a palavra final em questões polemicas.

B – Coreografia – Convidar alguém da comunidade para ser o orientador, visando transmitir conhecimentos específicos e corrigir erros.

C) – Figurinos, adereços e objetos de cena – Como vamos obter materiais para a confecção dos figurinos? Sugestão:Visitem lojas de roupas usadas, solicitem doação de tecidos, e auxilio de quem sabe costurar.

D) Música – A musica gravada pede um equipamento com a dimensão adequada ao espaço da apresentação.

E) Maquiagem – Uma pessoa fará todas as maquiagens, ou cada uma fará a sua.

F) Palco: cenário, iluminação, som – realizem um projeto detalhado e envolva a maior parte do grupo nesta função.

G) Preparação da platéia, bilheteria e recepção do público – Organizar cadeiras, delimitar o espaço para o público, manter a limpeza do local, recepção do público – indicando onde as pessoas devem se posicionar.

H) Divulgação e programação visual – Quais serão as datas das apresentações? Haverá convites, cartazes? Quem irá criá-los e que equipe irá distribuir? Entrem em contato com a imprensa divulgue na imprensa escrita, falada e televisionada. Convide pessoas ligadas a cultura em sua cidade.

4. A avaliação
*Reúnam-se e conversem sobre essa experiência: o que deu certo, o que foi engraçado, qual a reação do público, onde houve falhas, o que poderia ter sido feito de outra forma.

*Escrevam sobre tudo individualmente, produzam depois uma matéria jornalística a respeito do espetáculo.

*Discutam a possibilidade de continuidade das apresentações e inclusive a venda do espetáculo para eventos, afinal vocês agora tem em mãos um produto cultural.

Dinâmica: Sabedoria e Conhecimento

Texto: O Erudito e o Barqueiro

Norbey, às vezes, levava pessoas de viagem em seu barco.
Um dia , um exigente gramático contratou-o para que levasse ao outro lado do rio. Assim que se viram flutuando , o erudito perguntou-lhe se haveria tempestade naquele dia.

_ Não me “pregunte” nada sobre isso – disse Norbey.
_ Você alguma vez estudou gramática?
_ Não - respondeu.
_ Nesse caso, você perdeu metade da sua vida. – Norbey não disse nada.

Em seguida estourou uma terrível tempestade. A casca de noz de Norbey começou a encher-se de água. Então Norbey falou:

_ O Senhor alguma vez aprendeu a nadar?
_ Não – disse o erudito pedante.
_ Nesse caso, toda a sua vida está perdida, mestre, pois estamos afundando.

( Conto da tradição sufi)


Dinâmica:
1. Leitura em grupos;
2. Interpretação, discutindo em grupos:
a) Como cada um de vocês se sentiu ao ler o texto?
b) Qual a diferença entre conhecimento e sabedoria?
c) O texto apresenta um exigente gramático dando muita importância à formação acadêmica e um humilde barqueiro que sabia nadar, por isso pode salvar sua vida na tempestade. Que reflexões esse tema provoca?
d) O que cada um de vocês ensinaria a seus filhos _ além de nadar – para que eles pudessem se defender na vida?
e) Que ensinamentos a leitura deixou ao grupo?
3. Plenário

Dinâmica: Interiorização e Mudança

Texto: O que disse Bayazid sobre si mesmo

Quando jovem, eu era um revolucionário e minha oração consistia em dizer a Deus:
“ Senhor, dê-me forças para mudar o mundo”.

À medida que fui me tornando adulto, dei-me conta de que havia passado metade da vida sem ter conseguido mudar uma única alma.
Transformei minha oração e comecei a dizer:
“ Senhor, dê-me a graça de transformar a todos os que entrarem em contato comigo”.
Mesmo que seja somente minha família e meus amigos.
Com isso já me dou por satisfeito”.

Hoje , que sou velho e tenho os dias contados, comecei a compreender o estúpido que fui.
Minha única oração agora é a seguinte:
“Senhor, dê-me a graça de mudar a mim mesmo”
Se eu tivesse rezado dessa maneira desde o começo, não teria desperdiçado a minha vida.

Dinâmica:

1. Leitura em grupo.
2. Compartilhar com o grupo o que sentiu ao ler o texto.
3. Alguém identificou-se com a historia?
4. O grupo acredita que se as pessoas olhassem primeiro para si mesmas conseguiriam contribuir para com a vida dos outros?
5. Quais ensinamentos que este exercício deixou ao grupo.
6. Plenária.

Esclarecimento

Todos os textos apresentados aqui até a data de hoje, foram pesquisados por Renato Sampaio Sadi - Doutor em Educação pela PUC/SP - Docente da FEF/UFG. ok, vale a pena conferir.

sábado, 14 de junho de 2008

Referências bibliográficas

ANDERSON, Perry. Pós-Neoliberalismo, as políticas sociais e o estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. BETTI, Mauro. A janela de vidro. Campinas: Papirus, 1999. BRACHT, Valter. Educação Física e Aprendizagem Social. Magister, 1992. ______. Educação Física & Ciência: cenas de um casamento (in)feliz. Ijuí: Unijuí, 1999. CASTELLANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. Campinas: Papirus, 1989.CARTAS Brasileiras de Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Espote,Campinas: Autores Associados, v. 23, n. 1, set. 2001.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.FÉRNANDEZ ENGUITA, Mariano. Trabalho, Escola, Ideologia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.FREITAS, Francisco Mauri de C. A miséria da Educação Física. Campinas: Papirus, 1991.GOMES, Luiz M. Os homens do presidente. São Paulo: Viramundo, 2000.HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1989.KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica no esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.______. Esporte Escolar. Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física. Caderno de Debates, v. 1, ago. 1994.MARTINS, Umberto. A crise do capital não está restrita à esfera financeira. Revista Princípios, n. 51, jan. 1999.MARX, Karl. A miséria da filosofia. São Paulo: Global, 1985._____. O capital: crítica da economia política. Livro primeiro: o processo de produção do capital. v. I e II, 7 ed., São Paulo: Difel, 1982._____; ENGELS, Friedrich. A ideologia Alemã: (I - Feuerbach). 9 ed., São Paulo: Hucitec, 1993._____. Textos sobre educação e ensino. São Paulo: Moraes, 1983.MEDINA, João P. S. A Educação Física cuida do corpo e “mente”. Campinas: Papirus, 1983.NETTO, José P. Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. São Paulo: Cortez, 1993.OLIVEIRA, Vitor M. de. Consenso e conflito da Educação Física brasileira. Cam pinas: Papirus, 1994.ROCHA, Ruth. Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha. São Paulo: Com panhia das Letras, 2002.SOUZA, Solimar S. de. Esporte escolar: novos caminhos. Vitória: CEFD/UFES, 1994.SADI, Renato S. Impactos da regulamentação no projeto pedagógico ideal para a Educação Física escolar. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Campinas, v. 21, n. 2/3, 2000.______. A qualidade da Educação Física escolar. Revista Brasileira de Ciêcias do Esporte. Campinas, v. 21, n. 2/3, 2000.UNESCO. Carta Internacional da Educação Física e do Desporto da Unesco. Paris, 1978. IN: Educação Física escolar: política, investigação e intervenção, vitória vol I, 2001.VAZ, Alexandre. Do culto à performance: esporte, corpo e rendimento. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 11. 1999. Anais. Florianópolis, 1999.VIEIRA, Evaldo. Democracia e Política Social. São Paulo: Cortez, 1992.
Referências na Internetwww.cbce.org.brwww.boletimef.orgwww.confef.org.brwww.mncr.rg3.net

O direito da criança e do adolescente no esporte

Esporte é um direito da criança e do adolescente e deve ser promovido para todos, sem seletividade.


Lançado em 1988, em Genebra, e relançado no congresso de Panathlon em Avignone (1996) a Carta dos Direitos da Criança no Esporte apresenta onze itens assim distribuídos:
1 – Direito de praticar esporte;2 – Direito de se divertir e de jogar;3 – Direito de usufruir de um ambiente sadio;4 – Direito de ser tratado com dignidade;5 – Direito de ser rodeado e treinado por pessoas competentes;6 – Direito de seguir treinamentos apropriados aos ritmos individuais;7 – Direito de competir com jovens que possuem as mesmas possibilidades de sucesso;8 – Direito de participar de competições apropriadas;9 – Direito de praticar o próprio esporte com absoluta confiança;10 – Direito de tempos de repouso;11 – Direito de não ser um campeão.
Respeitar o ser em desenvolvimento no sentido de garantir uma educação esportiva de qualidade que possa oferecer o aprendizado do gesto esportivo combinado com a possibilidade de gosto pelo esporte é um eixo que perpassa toda a carta. Da mesma forma, ampliar experiências motoras e sociais dos grupos, a fim de estabelecer “consciências” dos direitos que possam ser introjetadas e vividas democraticamente.Tratar de direitos da criança no esporte implica o questionamento da concepção e da prática esportiva a ser conduzida. Variando de lugar para lugar, mas com um eixo comum, os direitos podem se tornar inexpressivos e sem utilidade caso sejam apenas vistos e não vividos, isto é, caso não ocorra uma efetiva manifestação sobre eles.

PANATHLON
UNESCO
1- Direito de praticar esporte
1- Diereito fundamental de todos
2- Dierito de diversão e brincadeira
2- Educação permanente
3- Benefício de ambiente sadio
3- Necessidades dos indivíduos
4- Tratamento com dignidade
4- Qualificação docente
5- Treinamento por pessoas qualificadas
5- Equipamentos e materiais
6- treinamento adequado
6- Investigação e avaliação
7- Igualdade nas possibilidades
7- Defesa de valores éticos
8- Competições adequadas
8- Informação e Documentação
9- Repouso
9- Comunicação Social
10- Direito de não ser campeão
10- Intituições Nacional

11- Cooperação Internacional
A partir de uma compreensão unificada e avançada sobre direitos no esporte escolar, percebemos que ambas as instituições enfatizam as competições esportivas em detrimento das aulas de esporte para todos. Além disso, pautam seu discurso abstraindo a escola do universo de possibilidades pedagógicas do esporte.No Brasil, dominantemente o esporte educacional ocorre no interior da escola e não fora dela. Sabemos das dificuldades dos professores de Educação Física na organização de horários de quadra e turmas para a prática esportiva e isso reforça o argumento de que a escola deve ser um espaço privilegiado de atuação e ocupação do esporte escolar. Em ambos os documentos, a tônica parece estar fora da escola, concebendo uma criança idealizada, isto é, uma criança que, em tese, não enfrentaria problemas na família, na escola e na sociedade. No geral, não temos nada contra o esforço de Instituições que proclamam direitos para todos no esporte. O que não podemos deixar de frisar são as generalidades das cartas, palavras que se soltam no vazio e não se relacionam com a realidade miserável da maioria das escolas no Brasil.Tentando inverter tal lógica, apresentamos a primeira versão da Carta Brasileira do Esporte Escolar – objeto de debate do Seminário Nacional Esporte Escolar e Inclusão Social – realizado em dezembro de 2003 na Universidade de Brasília.Levando em consideração a diversidade e complexidade brasileira, bem como os objetivos do Programa Segundo Tempo, a perspectiva amplia determinadas noções de esporte e sugere a participação de todos na reflexão e ação sobre os mecanismos necessários à efetivação dos direitos no esporte escolar.


A Carta Brasileirado Esporte Escolar

Ao término do estudo desta seção, você deverá ser capaz de:• Compreender que existe desde a década de 80 um debate acadêmico profissional em forma de cartas, manifestos, confrontos e embates político-ideológicos na área de Educação Física;• Compreender e ser capaz de explicar as diferenças entre as posturas assumidas por diferentes grupos e concepções nesse debate.


Como a Carta Brasileira do Esporte Escolar trata as diferenças entre a Educação Física e o esporte? Em sua opinião, quais as inovações desta carta?
Por outro lado, a vivência dos direitos para as crianças devem constituir, na prática, as possibilidades de atingir a sensibilidade, o gosto pela vida, isto é, o direito de ser feliz.
Segundo Ruth Rocha (2002)
“Criança tem que ter nome, criança tem que ter lar, ter saúde e não ter fome, ter segurança e estudar. Não é questão de querer, nem questão de concordar, os direitos das crianças todos têm de respeitar (...) Tem direito à atenção, direito de não ter medos, direito a livros e a pão, direito de ter brinquedos (...) Carrinho, jogos, bonecas, montar um jogo de armar, amarelinha, petecas e uma corda de pular (...) Uma caminha macia, uma canção de ninar, uma história bem bonita, então, dormir e sonhar. Embora eu não seja rei, decreto neste país, que toda criança tem o direito de ser feliz."

1.6.1 As Cartas Brasileiras de Educação Física
Na seqüência apresentamos uma síntese das Cartas Brasileiras de Educação Física com a intenção de problematizar o debate sobre o esporte escolar como uma política a ser documentada e os diferentes papéis por ele estabelecidos.As cartas devem ser consideradas no tempo em que foram escritas e, assim, guardadas as características conjunturais e políticas dos diferentes momentos. Seguindo a compreensão da problemática dos direitos, citada anteriormente, as cartas brasileiras orientam-se pelo modelo de análise global do processo, conhecimento e realidade da Educação Física no país.É necessário, portanto, para os propósitos do esporte escolar, descartar as formulações mais genéricas sobre Educação Física e atentar para as especificidades que façam relação com o trabalho docente e as práticas esportivas de crianças e adolescentes.Após uma apresentação resumida de cada carta, segue um comentário crítico que pode e deve ser também interpretado por você de acordo com sua experiência profissional e conhecimento acadêmico.
Carta de Belo Horizonte – julho de 1984 - Carta 01
Carta de Carpina – 12 a 14 de março de 1986 - Carta 02
Carta de Sergipe – 15 de dezembro de 1994 - Carta 03
Carta do Confef – agosto de 2000 - Carta 04

1.6.2 Comentários e reflexões sobre as Cartas Brasileiras deEducação Física
São nítidas as diferenças e semelhanças apresentadas nas cartas. A seqüência cronológica destas produções (1984 – 1986 – 1994 – 2000) indica, nos contextos das conjunturas específicas, as mudanças internas da Educação Física brasileira.Após a ditadura militar, todos foram unânimes em promover o direito à Educação Física e esporte de qualidade. Até mesmo no período ditatorial, tal direito era declarado com letras maiúsculas.
Diversas intenções podem ser extraídas destes documentos:• necessidade de dar visibilidade a uma área com baixo grau de densidade científica; • necessidade de combater politicamente grupos antagônicos; • tentativas de superar a prática tecnicista na formação dos professores, pois tal formato atrapalhava as intenções de abertura do mercado na área; • promoção e valorização de tecnologias em desenvolvimento; • informações e documentações que, em grande parte do período citado, eram extremamente restritas a grupos fechados.
Há, no entanto, um fio condutor que atravessa o período das cartas e manifesta-se com bastante visibilidade nos dias atuais: a questão do corporativismo.
Ainda que na prática a luta travada seja pelo corpo de professores, o movimento geral das cartas se aproxima muito mais das reivindicações, obrigações, palavras de ordem e defesas apaixonadas (muitas vezes legítimas) do que de uma ofensiva estratégia organizada com um amplo conjunto de trabalhadores. A limitação apresenta-se quando apenas os aspectos econômicos são priorizados, quando apenas os aspectos reivindicatórios do jogo político são apresentados como elementos de contradição.E como se processa o engajamento e a criticidade do professor? Poderse-ia contra-argumentar e elaborar a tese da estrutura política vigente que oprimia o conjunto das classes populares e, entre elas a da Educação Física. Superar as concepções mecanicistas e corporativistas é um desafio para todos aqueles que desejam mudar a Educação Física e o esporte por dentro, pela via efetivamente pedagógica-política.Mas a força educacional das atividades docentes na escola pode começar a fazer sentido, desde os pequenos jogos ao esporte de competição. Isso, é claro, vai depender do planejamento das atividades e atitudes, dos conteúdos, métodos e avaliação dos professores, o que implica em bons salários e, então, estamos de volta à questão do corporativismo. Por outro lado, a unidade se constrói na luta, na diversidade de opiniões e na experimentação de novas possibilidades.As cartas registraram e captaram a maior parte dos anseios da área de Educação Física, mas mesmo assim é necessário reafirmar que esse movimento culminou, ao mesmo tempo, com uma ruptura na eleição de 2002, e uma continuidade crescente, pois todos os elementos concretos das cartas, suas manifestações, pleitos e explicações continuam vivos.
Usamos a palavra qualidade sem pensar muito em seu significado.Para você, o que é qualidade? Como ela se expressa na educação e no ensino do esporte?
Opinar e filosofar sobre o conteúdo das cartas deve ser combinado com um aprofundamento conceitual dos temas e abertura de polêmica justa quanto à programática a ser instalada em cada unidade escolar, em cada núcleo de esporte, para que se concretize o discurso e se efetive a mudança.Com esse espírito, podemos rumar para a ampliação do horizonte teórico-político e, na prática, desenhar novas possibilidades de intervenção criativa. De qualquer forma, concordando ou discordando do conteúdo e das mensagens das cartas, registra-se o empenho daqueles que as escreveram e/ou contribuíram na intenção de melhorar a área de Educação Física. Quem realmente se comprometeu com a construção de mudanças merece ser parabenizado.
Um outro ponto importante a ser sublinhado no conjunto das cartas refere-se ao conceito de qualidade – se de um lado trata-se de uma justa reivindicação dos trabalhadores, de outro apresenta-se como serviço prestado, como mercadoria a ser trocada; em última análise, remete àcoisificação do sujeito.
Importa registrar que a verdadeira qualidade deve ser social e socializada com todos. A discussão conceitual sobre qualidade pode ser resumidamente apresentada sob dois prismas: de um lado, a empresa capitalista que almeja lucros através de política econômica favorável aos empresários e amplamente desfavorável aos trabalhadores. Tal organização econômica da atividade produtiva e de serviços em conjunto com a organização do trabalho requer qualidade. É a eficiência da eficácia, a rapidez da perfeição, a competitividade do competitivo, a ganância do ganancioso.De outro lado está a qualidade social dos trabalhadores, radicalmente diferente da anterior. Produz-se qualidade a partir da construção coletiva e popular, da arte e da estética, da educação voltada para o humano, ou seja, não meramente voltada para o mercado. O conceito de qualidade tem sido vulgarmente utilizado para definir produtividade, eficiência, agilidade de relações de trabalho e ética. Vê-se portanto, que a qualidade depende de quem olha, da concepção que se adota para enquadrá-la nos objetivos perseguidos.Na tentativa de estabelecer os principais significados das cartas hoje, para a política da Educação Física e esporte em nossa sociedade, realizamos um extrato das questões básicas para os determinantes escolares:
• Atividade docente e formação acadêmica e continuada, vinculada à produção de pesquisas socialmente relevantes;• Competência pedagógica que contemple a autonomia dos alunos;• Implantação de políticas sociais no país e, principalmente no Nordeste, área carente de recursos humanos e materiais;• Participação ativa e gestão democrática nas diversas entidades e debates que os envolvidos dinamizam.
Por fim, na conceituação do Coletivo de Autores sobre a reflexão pedagógica, entendemos que não pode ser uma carta ou um conjunto de cartas, o eixo de articulação da área de Educação Física e esporte . Segundo o Coletivo, a reflexão pedagógica é diagnóstica, judicativa e teleológica, isto é, constatamos os dados da realidade, julgamos tais dados a partir de uma determinada ética e apontamos a direção, o alvo aonde queremos chegar (Metodologia do ensino de Educação Física, 1992, p. 25). Podemos traçar o paralelo entre tal reflexão e o saldo das cartas brasileiras de Educação Física. Estamos rigorosamente situados no conflito de perspectivas, pois já sabemos diagnosticar, julgar e objetivar. Resta aperfeiçoar tais mecanismos.

Esporte educacional,de desenvolvimento,participação e lazer e de rendimento

Deve-se compreender o conceito e a prática do esporte em suas três dimensões: educacional, de participação e lazer e de rendimento;• Compreender que o esporte escolar, na atual estrutura piramidal, deve ser reformulado.


Torna-se importante destacar que tais princípios do esporte de rendimento podem se manifestar no esporte educacional, no nascimento do esporte na criança. Os professores de Educação Física conhecem tais princípios, entretanto, precisam compreendê-los melhor. O estranhamento no esporte pode ser muito forte na formação inicial das crianças, que poderia conduzi-las à passividade da mera torcida pelos colegas considerados mais “aptos”. Tais divisões e fragmentações estranham as possibilidades educacionais no esporte e precisam ser revistas pelos professores.
O individualismo e a hipercompetitividade precisam ser constantemente combatidos. São expressões máximas e esdrúxulas que se deseja negar numa sociedade efetivamente fraterna e democrática.
As manifestações da individuação (indivíduo em ação) e da competição a favor e não contra o humano devem ser incentivadas e promovidas de forma didática e educacional, garantindo-se a permanência de valores éticos no decorrer da vida.Bracht (1992), advogando princípios de uma pedagogia crítica para a área, enumera as seguintes posturas:
“Os professores de Educação Física precisam superar a visão positivista de que o movimento é predominantemente um comportamento motor. O movimento é humano, e o Homem é fundamentalmente um ser social (...) precisam superar a visão de infância que enfatiza o processo de desenvolvimento da criança como natural e não social. Fala-se da criança em si, e não de uma criança situada social e historicamente (...) devem buscar o entendimento de que, o que determinará o uso que o indivíduo fará do movimento (na forma de esporte, jogo, trabalho manual, lazer, agressão a outros e a sociedade etc.) não é determinado em última análise, pela condição física, habilidade esportiva, flexibilidade, etc., e sim pelos valores e normas de comportamento introjetados, pela condição econômica e pela posição na estrutura de classes de nossa sociedade (...) Superar a falsa polarização entre diretividade e não-diretividade (...) um outro equívoco que precisa ser superado, é o de que devemos simplesmente ignorar a cultura dominante, que nesse entendimento não serve à classe dominada” (Bracht, 1992, p. 65).
Ao superar uma série de condicionamentos pertinentes à formação tecnicista em Educação Física, os professores precisam entender que o esporte educacional e escolar deve ser o esporte da escola e não o esporte na escola.Da escola, por ser próprio de cada manifestação individual e coletiva, por ser próprio de cada localidade e principalmente, por carregar a perspectiva da autonomia. Não deve ser um esporte na escola, isto é, um esporte de rendimento, olímpico e de treinamento, injetado na escola por determinação de uma dada cultura dominante, televisiva e mercadológica.As interfaces entre o esporte na escola e o esporte da escola tornam se visíveis na medida em que o esporte puder ser democratizado, isto é, ensinado a todos. Reafirma-se a idéia de que não há por que ser contra o esporte de rendimento, afinal ele tem um porquê e um para quê, além do para quem de sua existência.Assim, as divisões entre Educação Física escolar e não-escolar contribuem para uma visualização da cultura corporal de forma ampla, complexa e dialética. Todas as manifestações dos jogos, das brincadeiras, do esporte, da dança, das lutas, da capoeira e de inúmeras formas de movimentar-se estão presentes nestas duas subáreas. Ocorre que as mudanças neoliberais da década de 1990 imputaram à educação formal um sentido restrito à Educação Física. Soma-se a isso o abandono e o sucateamento dos espaços públicos, dos equipamentos e da qualidade profissional que não pode ser imposta por um simples registro, mas deve ser formulada e articulada historicamente.
A atual estrutura do Ministério do Esporte está baseada na Constituição brasileira.
As divisões do Esporte e a constituição de um Ministério próprio com três Secretarias (Educacional, de Desenvolvimento, Participação e Lazer, e de Rendimento) ajudam a compreender o esporte como prática social historicamente construída e culturalmente desenvolvida. As nítidas fronteiras entre as três dimensões do esporte foram resultado das mudanças processadas na sociedade brasileira nos últimos trinta anos, bem como das mudanças internas na área de Educação Física.
O Esporte Escolar é ainda restrito a crianças e adolescentes considerados talentos esportivos, sendo dominantemente compreendido como base para o esporte de rendimento e desenvolvido a partir desta compreensão. Esta é uma realidade que distancia a prática do Esporte da perspectiva educacional, gerando exclusão nas práticas escolares e desigualdade de oportunidades, pois é um processo que já se inicia sendo oferecido para poucos. Sabendo que no decorrer dos anos haverá exclusão e desistência por uma série de fatores, chega-se ao esporte de rendimento com um número baixo de talentos esportivos.

Em sua opinião, quais as principais características do esporte educacional?
Na contra-mão desta pirâmide injusta, busca-se o aumento do número de alunos envolvidos, a continuidade do processo de participação esportiva na vida escolar, almejando uma educação integral, projetando a disseminação da prática e da cultura esportiva do país.Dessa forma apresentamos uma (re)significação da pirâmide citada (que busca talentos pela exclusão – elementos a serem combatidos), incluindo-a dentro de um amplo bloco de sujeitos envolvidos, o que demonstra a continuidade de um processo de ensino e prática esportiva com elevada qualidade ao povo. Teríamos a oportunidade de ampliar o número de praticantes de esporte, tanto de nível iniciante (1) como de nível intermediário (2) antes de se chegar ao esporte de rendimento; nesta lógica, com novo significado.A abertura das pirâmides, isto é, a inversão da lógica da pirâmide anterior (triângulo) implica o alargamento de oportunidades e novas possibilidades de vivência do esporte.Verificamos, assim, a necessidade do aumento da prática esportiva nas escolas, por meio de um projeto de cunho pedagógico e educacional, de competições regionais, estaduais e nacionais, de eventos e festivais esportivos. Em outros termos, o esporte escolar olhando e trabalhando para além da antiga e obsoleta pirâmide.


O professor Elenor Kunz, em 1994, abordou o problema da mudança que era (e continua sendo) necessária na Educação Física. Seu estudo de doutoramento contribuiu para processar as mudanças na Educação Física através do tema esporte. Em sua concepção, haveria uma transformação didática do esporte na prática do professor de Educação Física. A idéia inicial da tese pode ser resumida em: “É uma irresponsabilidade pedagógica trabalhar o esporte na escola que tem por conseqüências provocar vivências de sucesso para uma minoria e vivência de insucesso ou de fracasso para a maioria”.Desta forma, o desenvolvimento do esporte escolar seria conduzido pela contra-mão do processo de exclusão da maioria, isto é, os professores de Educação Física teriam que promover o esporte, ensinando-o a todos. Seria necessário não apenas transmitir e ensinar técnicas dos esportes com vista a competições, mas transformá-lo didaticamente. Isso inclui uma agenda complexa que passa pela compreensão da sociedade que produz mercadorias e chega à instituição Esporte, que também produz mercadorias. Nesse sentido, nos dias atuais, seria impossível imaginar o esporte sem o componente rendimento. Por isso mesmo é importante que os alunos tenham acesso a informações sobre a mercantilização do esporte, de como ocorre a troca e venda de imagem, produtos, atletas e tantas outras mercadorias no esporte e através do esporte.Isso significa uma nova visão, com mais participantes, com maior número de espectadores que entenderão mais sobre esporte e com um maior número de pessoas envolvidas no mundo de negócios dos esportes, com uma compreensão maior do contexto de envolvimento.Se o mais significativo no esporte escolar são as competições pedagógicas, precisamos aprofundar mais o tema do caráter das competições educacionais. Em primeiro lugar registra-se que a herança militar e médico-higienista nos conformou com a idéia do esporte educacional, necessariamente, de treinamento e rendimento de equipes esportivas como única via de promoção de competições.Muitos cursos de Educação Física pautaram seus currículos pelo paradigma da aptidão física, o que implicou um grande número de horas destinadas ao estudo da anatomia, fisiologia, biomecânica e biologia entre outros. Tais conteúdos estavam organizados por uma formação tecnicista que, no esporte, ensinava nada mais do que gestos técnicos, fundamentos básicos do esporte.

Em sua formação, se houve ênfase em aspectos biológicos, você aprendeu como lidar com pessoas saudáveis e normais ou também teve chance de saber como auxiliar alunos portadores de necessidades especiais, com diabetes, asma, e outros problemas crônicos? O professor de Educação Física é formado apenas para ensinar ao aluno ideal em termos físicos e cognitivos?
Na atual realidade, as mudanças foram significativas e, portanto, não podemos aceitar o implismo desta pedagogia, até porque seus objetivos hoje já não são tão possíveis. Por outro lado, devemos nos afastar do espontaneismo pedagógico que entende que a criança deve jogar de acordo com a construção de regras livres e o professor ser um mero coordenador. Tal perspectiva anula o papel docente e, assim, reproduzimos a lógica da exclusão, isto é, nada ensinamos, nada efetivamente transmitimos para as novas gerações.


Na sociedade, o esporte é um fenômeno do senso comum. As pessoas, nos círculos de conversa familiar ou não, reproduzem o esporte e o discurso existente na imprensa. A reprodução é uma categoria importante para a compreensão crítica do esporte. De um lado, somos levados à reprodução de uma série de ações, movimentos e atitudes, isto é absolutamente normal, aliás é bom que aconteça mesmo a imitação da criança, as cópias dos adolescentes, as imagens que registramos na juventude, etc. Mas este é apenas um ponto de partida, pois, de outro lado, não precisamos e não devemos sempre reproduzir ações, movimentos e atitudes. Isso pelo fato de a consciência crítica se manifestar pelas contradições da realidade e da tirania das circunstâncias, o que nos obriga e negar. Em resumo, a reprodução é uma constante do afirmar, do negar e do afirmar novamente em plano crítico-superior.Por isso as competições pedagógicas precisam ser modificadas radicalmente e isso só ocorrerá quando houver condições próprias, materiais e de recursos humanos qualificados, preparados para este desafio.Descrevemos a seguir algumas características negativas na prática do esporte escolar, para podermos compará-las com possíveis mudanças:
• O esporte escolar reforça os valores da competição em detrimento dos valores da cooperação;• O esporte escolar reforça o individualismo em detrimento da solidariedade;• O esporte escolar privilegia atividades repetitivas e mecânicas em detrimento da liberdade de movimento, da criatividade e da ludicidade;• O esporte escolar privilegia a ação exclusivamente diretiva do professor em detrimento do diálogo e da liberdade de expressão;• O esporte escolar desenvolve as modalidades esportivas mais conhecidas e que desfrutam de prestígio social, como o voleibol e o basquete;• O esporte escolar privilegia como conhecimento de determinadas modalidades esportivas, exclusivamente a execução técnica e tática dos seus fundamentos como o passe, o drible, a cortada, etc;• O esporte escolar reforça a idéia de ascensão social através do esporte (cf. Souza, 1994, p. 81).

Qual seria o contraponto da negatividade do esporte escolar e no que efetivamente os aspectos positivos se relacionam com a política e a sociedade? Para responder esta questão, podemos simplificar o discurso propositivo em quatro pontos e então relacionar as pertinências da política e da sociedade:
• O esporte escolar pode reforçar a cooperação através da educação da sensibilidade, da ética, da estética e dos conhecimentos pertinentes à bagagem dos alunos, bem como à criatividade crítica do professor;• O esporte escolar pode reforçar o coletivismo ensinando que dependemos dos outros para poder atuar com mais inteligência, mais estratégia na atividade desenvolvida;
• O esporte escolar pode encaminhar crianças e jovens para práticas prazerosas, sem se furtar às competições pedagógicas. O prazer pode se aliar à técnica, à disciplina e ao estudo rigoroso sobre determinada atividade;• O esporte escolar pode desmistificar a ascensão social de alguns atletas e disseminar um discurso democrático de que sua existência deve ser baseada na possibilidade de ensino para todos.
A aplicação destes pontos no interior da escola depende de um ajuste entre o professor, seus alunos, o projeto pedagógico e também da política traçada por aqueles que detêm poder. Nesse sentido as expectativas de uma política de esporte popular e democrática que possa entranhar-se no seio da sociedade são grandes.


As esferas políticas, desde o governo federal, passando pelos estados e municípios e chegando efetivamente ao coração dos estudantes, podem relacionar-se em uma unidade política de avanço, se compararmos com as tradições políticas de nosso país. Por fim, as dimensões do esporte (educacional, de lazer e de rendimento) também podem criar canais de diálogo na sociedade e é bem possível que isso venha a ocorrer, pois partindo da inclusão social e da democratização do acesso ao esporte, cada vez mais ficarão nítidas as diferenças no fazer esportivo e em seus respectivos objetivos.Se todos concordam com as idéias de que o esporte, na sua dimensão educativa escolar, deva ser regido por princípios próprios e diferenciados do esporte de rendimento, o que dizer do esporte relacionado ao lazer? É possível estabelecer, nas horas de folga dos trabalhadores, práticas esportivas que os conduzam à emancipação?Se entendermos o lazer esportivo como política social, podemos questionar o efeito de tal política, isto é, os conflitos dos setores populares serão anestesiados, adormecidos e amenizados ou terão oportunidade de manisfestar-se nas contradições e reivindicações vigentes? Isso implica questionar se as políticas sociais estimulam os despossuídos e oprimidos a novas conquistas fora o mero direito ao emprego ou se o mero direito ao emprego e o que já existe é o suficiente.Trata-se de uma questão complexa que envolve um certo sentido educacional, mas também pode ser vista pela ótica da necessária redução da jornada de trabalho.
O importante é que a área de Educação Física estabeleça o diálogo com o esporte, traçando as linhas de demarcação dos interesses e confluências.
Nesse sentido podemos separar a Educação Física como componente curricular, mais ligada ao conhecimento da cultura corporal e possibilidades de vivências múltiplas e o esporte escolar mais ligado às vivências esportivas e motoras, diversificadas e/ou específicas.Também podemos separar a educação esportiva do esporte de base, a primeira mais próxima do esporte escolar e das práticas de educação formal; a segunda, relacionada ao esporte de preparação para o rendimento, realizada preferencialmente em instituições de formação de atletas, clubes, associações específicas de treinamento, etc.Por fim, temos que tornar verdadeiro o discurso da inclusão. Isto significa pôr em prática as palavras mágicas do esporte educacional e planejar aulas de Educação Física e esporte que possam expressar com fidelidade o caráter educacional. Significa também abandonar de vez a idéia de que a Educação Física cuida do corpo e da mente (cf. Medina, 1989).


A mentira e o ocultamento das atividades pedagógicas não servem à sociedade, principalmente quando o autoritarismo (e não a autoridade) se faz presente para atropelar toda e qualquer organização democrática. Não podemos mais conviver com a falsa concepção de unidade existente na Educação Física: a de que existe um elo entre corpo e mente que não pode ser dissociado. Da mesma forma temos que rechaçar a famosa dicotomia entre o corpo e a mente, ou seja, não concordar com a divisão e a fragmentação do ser humano. Tais questões implicam necessariamente na abordagem dialética do esporte, avançando-se em direção a uma concepção unitária de esporte, ainda inexistente.Na mesma direção cabe fundamentar a Educação Física como componente curricular excluindo a possibilidade de mera atividade, ou nas palavras de Castellani Filho, “um fazer por fazer”. Isso porque já no nascimento das possibilidades escolares, muitas vezes, há o reforço da perspectiva do “nada fazer” do “recreio prolongado”. Tal perspectiva contribui para deslegitimar a Educação Física no interior da escolar e, conseqüentemente, o esporte escolar sendo tratado como acessório.As conseqüências desse arranjo respingam na sociedade que entende que a atividade física é benéfica para a saúde e ponto. Para além da argumentação fácil, precisamos difundir a idéia de que os interesses de poucos estão sendo o centro do debate político sobre o esporte. Quem não se lembra da famosa frase televisiva: “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”?
Cabe, nesse formato, inverter a lógica do exercício físico descontextualizado e tratá-lo como conhecimento prático e teórico. Prático, pelo fato de que a base do conhecimento é prática, aprende-se na e pela prática, no fazer, no se-movimentar, na expressão do corpo, na imitação dos gestos. Teórico pelo fato de que é a teoria quem generaliza a experiência, revela questões que nem sempre estão implicadas na prática e, além disso, contribui para atingir a consciência das necessidades dos homens, elevando-os racionalmente e sistematizando os pensamentos da prática.

Estranhamento com o espetáculo esportivo para massas: mídia, individualismo e hipercompetitividade

Devemos compreender que o esporte possui componentes negativos(reprodução da mídia sem reflexão dos sujeitos) e positivos (postura dos professores/monitores como agentes de mudança).

Das manifestações esportivas capazes de influenciar a conjuntura política, certamente temos as grandes competições de esporte de rendimento, como a Copa do Mundo de Futebol, as Olimpíadas, os Jogos Pan-Americanos, etc. A simbologia da vitória é o cerne da questão. Através dela, os organizadores do marketing do esporte potencializam suas vendas; as torcidas atuam como elemento passivo diante do fenômeno do espetáculo esportivo.Nesse sentido pode-se dizer que há um estranhamento do homem em relação ao espetáculo esportivo, pois na arena da competição todos se envolvem em busca da vitória, que pode ser tanto uma vitória legítima quanto uma vitória por meios ilícitos. Tal estranhamento é reforçado pela mídia televisiva, pelas falas dos apresentadores que ora valorizam, ora destroem a imagem de atletas.
O discurso televisivo sobre o esporte pode ser verdadeiro ou mentiroso como qualquer outro discurso, mas seu elemento sedutor reside na imagem da perfeição do gesto técnico dos atletas, bastante explorado pela televisão. Recordes, finalizações, dribles e façanhas esportivas são exaltados e repetidos em montagens espetaculares.
Assim, no que se refere ao esporte, a dura realidade do País não é projetada para os milhões de brasileiros. O que assistimos são espetáculos de esporte de alto nível que se pautam pelo individualismo e hipercompetitividade não o esporte como jogo, como lazer, como educação, etc.Vaz (1999, p.100) afirma que a mídia televisiva tem como preocupação central dois “passatempos”, quando transmite, por exemplo, os Jogos Olímpicos:
• um relacionado à especulação de limites humanos como recordes, marcas e pontos;• a comparação das performances entre homens e mulheres, atribuindo ao sexo masculino o paradigma “superior”
O autor constata que nos dias atuais os processos de controle do corpo mediados pela ciência e pela tecnologia do esporte alcançam a experiência humana, tornando-a um culto a performance. Baseando-se em Theodor Adorno – para quem o esporte teria um caráter masoquista, violento, fazendo o ser obedecer e sofrer – Vaz resgata a idéia do corpo como máquina, do corpo como coisa.Assim, a sociedade esportivizada precisa treinar os corpos para o rendimento, para o espetáculo esportivo, o que significa naturalizar as experiências em laboratório com seres humanos, equiparando-os com os animais. A explicação desta trama é que os corpos, transformados em máquinas a serem dominadas, estariam sujeitos à coisificação da consciência, isto é, à mutilação da consciência, que não teria espaço para o racional, para o esclarecimento. A violência, a vingança, o ódio e o irracional tomariam conta deste corpo coisificado.


Torna-se importante destacar que tais princípios do esporte de rendimento podem se manifestar no esporte educacional, no nascimento do esporte na criança. Os professores de Educação Física conhecem tais princípios, entretanto, precisam compreendê-los melhor. O estranhamento no esporte pode ser muito forte na formação inicial das crianças, que poderia conduzi-las à passividade da mera torcida pelos colegas considerados mais “aptos”. Tais divisões e fragmentações estranham as possibilidades educacionais no esporte e precisam ser revistas pelos professores.
O individualismo e a hipercompetitividade precisam ser constantemente combatidos. São expressões máximas e esdrúxulas que se deseja negar numa sociedade efetivamente fraterna e democrática.
As manifestações da individuação (indivíduo em ação) e da competição a favor e não contra o humano devem ser incentivadas e promovidas de forma didática e educacional, garantindo-se a permanência de valores éticos no decorrer da vida.Bracht (1992), advogando princípios de uma pedagogia crítica para a área, enumera as seguintes posturas:
“Os professores de Educação Física precisam superar a visão positivista de que o movimento é predominantemente um comportamento motor. O movimento é humano, e o Homem é fundamentalmente um ser social (...) precisam superar a visão de infância que enfatiza o processo de desenvolvimento da criança como natural e não social. Fala-se da criança em si, e não de uma criança situada social e historicamente (...) devem buscar o entendimento de que, o que determinará o uso que o indivíduo fará do movimento (na forma de esporte, jogo, trabalho manual, lazer, agressão a outros e a sociedade etc.) não é determinado em última análise, pela condição física, habilidade esportiva, flexibilidade, etc., e sim pelos valores e normas de comportamento introjetados, pela condição econômica e pela posição na estrutura de classes de nossa sociedade (...) Superar a falsa polarização entre diretividade e não-diretividade (...) um outro equívoco que precisa ser superado, é o de que devemos simplesmente ignorar a cultura dominante, que nesse entendimento não serve à classe dominada” (Bracht, 1992, p. 65).
Ao superar uma série de condicionamentos pertinentes à formação tecnicista em Educação Física, os professores precisam entender que o esporte educacional e escolar deve ser o esporte da escola e não o esporte na escola.Da escola, por ser próprio de cada manifestação individual e coletiva, por ser próprio de cada localidade e principalmente, por carregar a perspectiva da autonomia. Não deve ser um esporte na escola, isto é, um esporte de rendimento, olímpico e de treinamento, injetado na escola por determinação de uma dada cultura dominante, televisiva e mercadológica.As interfaces entre o esporte na escola e o esporte da escola tornam se visíveis na medida em que o esporte puder ser democratizado, isto é, ensinado a todos. Reafirma-se a idéia de que não há por que ser contra o esporte de rendimento, afinal ele tem um porquê e um para quê, além do para quem de sua existência.Assim, as divisões entre Educação Física escolar e não-escolar contribuem para uma visualização da cultura corporal de forma ampla, complexa e dialética. Todas as manifestações dos jogos, das brincadeiras, do esporte, da dança, das lutas, da capoeira e de inúmeras formas de movimentar-se estão presentes nestas duas subáreas. Ocorre que as mudanças neoliberais da década de 1990 imputaram à educação formal um sentido restrito à Educação Física. Soma-se a isso o abandono e o sucateamento dos espaços públicos, dos equipamentos e da qualidade profissional que não pode ser imposta por um simples registro, mas deve ser formulada e articulada historicamente.

A regulamentação profissional na Educação Física

Existem posições políticas diferentes sobre a regulamentação profissional da área de Educação Física que tem afetado a escola e os projetos de esporte escolar.

A atual conjuntura tem sido marcada pelo debate sobre a regulamentação do profissional de Educação Física. Não cabe aqui polemizar sobre a necessidade ou não do registro profissional para aqueles que atuam com esporte. De modo geral não existe obrigatoriedade do registro, pois hoje vivemos uma época de inclusão e desenvolvimento e por isso mesmo não podemos excluir aqueles que ainda estão em formação, precisando de empregos e que podem ser utilizados para viabilizar os mais variados programas de esporte escolar.No interior do Estado de Goiás, por exemplo, mais de 80% dos professores são leigos. Tal situação dificulta um trabalho de qualidade na Educação Física e no esporte escolar, mas a solução do problema não é a simples regulamentação da profissão junto ao Sistema do Conselho Federal e Regionais de Educação Física. O compromisso do professor ou daquele que quer tornar- se professor é o compromisso do estudo e da criatividade crítica como arma para a atuação no cotidiano.
A grande diversidade cultural do corpo do brasileiro e, em conseqüência, de todas as suas atividades físicas não permite uma equação única de regulamentação, direitos e deveres, além de apresentar poucas chances de definição padrão.
Das manifestações lúdicas da infância ao esporte de rendimento a complexidade de atividades não pode ser definida e rotulada como atividades próprias dos profissionais de Educação Física. Nesse sentido, cabe refletir sobre o professor licenciado em Educação Física e o bacharel, este mais propício ao profissional de Educação Física. Na melhor das hipóteses para este profissional, restaria a titularidade do “autônomo”, isto é, o indivíduo que busca no mercado profissional a sua sobrevivência sem a garantia do empregado, mas com o risco do empregador.No interior do debate da Educação Física, a cultura corporal foi problematizada principalmente a partir da contribuição do Coletivo de Autores, em 1992. O significado histórico foi o mais visível, embora o antropológico também já estivesse presente. O alvo traçado era o professor de Educação Física do ensino básico e, portanto, a regulamentação profissional era um debate muito mais das antigas Associações de Professores de Educação Física (Apefs) do que propriamente do campo mais avançado da área.
O desenrolar dos anos 90 favoreceu diretamente o imediatismo do mercado privilegiando não a cultura corporal em sua ampla gama de manifestações, mas o sentido restrito de atividade física como ato unicamente motor.
Esta tendência manteve hegemonia para configurar os rumos profissionais da Educação Física, a Lei nº 9.696/98 e o nascimento do Sistema Confef/Cref.Rapidamente alastrou-se um falso debate de que a cultura corporal teria um componente ideológico vinculado à esquerda, e a atividade física seria um elemento de educação promovido pelos apoiadores do Conselho Federal de Educação Física. Nesse âmbito, a cultura corporal fragmentada restringiu-se aos debates acadêmicos enquanto o mercado profissional crescia. Pulverizaram-se os cursos de Educação Física e os conhecimentos técnicos sobrepuseram-se sobre os conhecimentos do homem, das relações humanas e pedagógicas de qualidade.Aqui reside uma problemática ainda sem solução: no que se refere à Educação Física na atual conjuntura brasileira, a ênfase no individualismo profissional reforça a hipercompetitividade do esporte visando isolar, neutralizar e até mesmo anular seu caráter educacional.
A hipercompetitividade não está relacionada apenas às competições esportivas de rendimento, mas às disputas profissionais no acirrado mercado de trabalho.

O que o atual debate em torno da Lei nº 9.696/98 – a lei de regulamentação do profissional de Educação Física – tem revelado é a disputa por intenção de projeto, que conjugue o interesse acadêmico e profissional, com possíveis mudanças imediatas, tais como a organização de uma categoria profissional, mas que possa, além disso, desembocar em projeto de fato.A aparência do debate já foi amplamente declarada – a defesa do mercado profissional. A essência do mesmo debate, todavia, não é dita: por trás do discurso fácil do mercado, da venda de imagem moderna/salvadora e de pessoa bem-sucedida na vida, oculta-se o sucateamento da escola pública, ou seja, o desejo de privatizar o espaço da Educação Física escolar.Como este é um processo de longo prazo, há que se modificar currículos de escolas de Educação Física; há que se aumentar as “disponibilidades” das academias e instituições para que se possa vender o corpo e as atividades físicas escolares, como “extra-escolares”; há que se caracterizar a escola (des)caracterizando o projeto pedagógico da Educação Física.Neste jogo, como em tudo na luta de classes, há dois lados: de um, os setores comprometidos com a formação de um amplo leque de políticas públicas de Educação Física, Esporte e Lazer, comprometidos com a defesa de um ensino público em todos os níveis, comprometidos com a qualidade social da educação para todos e com a transformação de valores e crenças que essa educação venha possibilitar.De outro lado, os setores defensores da regulamentação do profissional de Educação Física constituíram o pedaço de poder dos Conselhos Federal e Regionais de Educação Física, ou seja, conquistaram o poder da “profissão” Educação Física para o mercado do “profissional” de Educação Física, no entanto, ao analisar o termo profissão, o sentido corporativo é o mais nítido nas comparações dos salários dos trabalhadores.O status social atribuído a várias profissões no Brasil, na visão dos defensores da regulamentação significa imputar um sentido de profissão liberal. As profissões consideradas liberais, devido ao ápice da crise, conduziram as pessoas à imposição de padrões de vida bem inferiores aos de anteriormente, ou seja, o achatamento salarial fez (e faz) o padrão de vida mudar (para pior); em seguida, o arranjo da situação se deu (e continua se dando) através do aumento na jornada de trabalho. O corporativismo dificulta os olhares críticos dos trabalhadores na construção de unidade e resistência. Não têm sido poucos os debates sindicais que sinalizam a insuficiência da luta sindical isolada de uma dada categoria qualquer.
Você conhecia todos esses posicionamentos sobre a concepção da Educação Física e de sua regulamentação? Qual grupo expressa melhor sua opinião sobre o assunto?
A atual conjuntura é bastante complexa, divide e fragmenta os trabalhadores. Nesta lógica, podemos considerar cinco concepções políticas na área da Educação Física:
1. uma abordagem que nega toda e qualquer regulamentação, adotando a postura idealista do trabalho sem patrão nos marcos do capitalismo;2. um grupo que nega, mas ao mesmo tempo quer construir a contramão do processo através de uma perspectiva adesista às ordens profissionais; 3. um terceiro movimento que prefere não enxergar o problema e mantém-se, por isso, afastado de qualquer debate;4. uma quarta concepção constituída por pessoas que se dizem neutras, indiferentes e sem conteúdo do assunto, mas, talvez, conscientes e estudiosos da questão apóiam a regulamentação (ainda que indiretamente),neutralizando e confundindo-se com o grupo anterior;5. um quinto grupo formado por uma parcela de professores e estudantes que são os reais defensores da regulamentação do trabalho
Tais turbulências e ramificações polemizam e impactam no projeto pedagógico da área e nos programas de esporte escolar.Por fim, a recomposição da cultura corporal neste processo de regulamentação profissional é lenta e necessita de certos cuidados, para não ser totalmente destruída.

O esporte como política social para todos

O esporte é uma política social para todo o cidadão(Constituição Brasileira de 1988).

No Brasil, o esporte sempre foi uma política para poucos. As classes dominantes apenas legitimavam a prática esportiva quando seus interesses internacionais poderiam promover a nação, vendendo-a segundo os princípios mercadológicos. Assim, construiu-se uma concepção de que a política do esporte deveria ser massificada segundo os interesses do fomento ao esporte olímpico. Para compreender o que é uma política de esporte, vamos começar entendendo um pouco o que é uma política social.
Como estratégia de governo, a política social é geralmente entendida como um conjunto de planos, programas e normas, nos quais o Estado estabelece suas diretrizes, fixando ordens de governo e concedendo alguns mecanismos de reprodução social.
O conjunto de leis e diretrizes expressas em políticas sociais consegue apanhar do real o que é mais urgente e imediato e, muitas vezes não consegue fotografar o estratégico.Por outro lado, as tensões relativas a Capital-Trabalho encontram níveis de conflito mediados pelo Estado. Assim as pressões e reivindicações acabam por configurar-se em “tentativas” num primeiro momento e “conquistas” efetivas, com a definição de políticas de governo, num momento posterior.
“Não tem havido, pois, política social desligada dos reclamos populares. Em geral, o Estado acaba assumindo alguns destes reclamos, ao longo de sua existência histórica. Os direitos sociais significam antes de mais nada a consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores. Não significam a consagração de todas as reivindicações populares, e sim a consagração daquilo que é aceitável para o grupo dirigente do momento. Adotar bandeiras pertencentes à classe operária, mesmo quando isto configure melhoria nas condições humanas, patenteia também a necessidade de manter a dominação política” (Vieira, 1997, p. 22).
O esporte como política social insere-se na luta de classes, pois articulam-se perspectivas antagônicas em seu campo de atuação.
“Um exame fundamentado no método materialista histórico e dialético pode revelar a política social como parte da estratégia da classe dominante, mais adequadamente da burguesia. Pode dar a conhecer a política social como estratégia capaz de conservar a desigualdade social, colaborando no funcionamento do capitalismo”(Vieira, 1997, p. 30)

Escrevendo sobre três momentos da política social brasileira no século 20, o autor, em outro texto, considera que o primeiro período da política social seria o período de controle da política, indo desde a Era Vargas ao populismo nacionalista.O segundo período nomeado por política do controle cobriria a ditadura militar de 1964 até a Constituinte de 1988.O terceiro momento seria representado pelo período pós-88 e denominado de política social sem direitos sociais (cf. Vieira, 1997, p. 68).As lutas em favor da redemocratização da década de 80 possibilitaram uma certa oxigenação no campo das políticas sociais.Em nenhum momento a política social encontra tamanho acolhimento na Constituição brasileira, como acontece na de 1988 (artigos 6º, 7º, 8º, 9º, 10, 11): nos campos da Educação (pré-escolar, fundamental, nacional, ambiental, etc.), da Saúde, da Assistência, da Previdência Social, do Trabalho, do Lazer, da Maternidade, da Infância, da Segurança, definindo especificamente direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, da associação profissional ou sindical, de greve, da participação de trabalhadores e empregadores em colegiados dos órgãos públicos, da atuação de representante dos trabalhadores no entendimento direto com empregadores. De outra parte, poucos desses direitos estão sendo praticados ou ao menos regulamentados, quando exigem regulamentação. Porém, o mais grave é que em nenhum momento histórico da República brasileira os direitos sociais sofrem tão clara e sinceramente ataques da classe dirigente do Estado, como depois de 1995.Somar os esforços na direção do sujeito coletivo da classe dos que vivem do trabalho é ousar nas possibilidades concretas de mudança. O Esporte, no interior da escola, tem canais próprios para esse tipo de aposta. Sim, é uma aposta, pois não se pode saber o resultado, mas também pode ser um trabalho fascinante, se houver envolvimento social e emocional das pessoas. Por outro lado, a crise mundial afeta diretamente a escola pública. Há falta de recursos e desmotivação em geral.A crise não é só das expectativas dos agentes financeiros e econômicos em sonhar com os ganhos, que estão diminuídos. Não é só uma crise de investimento, na ótica capitalista de projeção de mercados. Além de ser uma crise de perspectiva do trabalho humano, é sobretudo uma crise de possibilidades, na qual o descontrole e a autonomia do financeiro assumem enormes proporções. A partir da crise estrutural e inerente ao capitalismo,
“O evolver da ordem burguesa, ao longo de todo o século 20, não infirmou nenhuma das tendências estruturais de desenvolvimento que Marx nela descobriu – ao contrário, comprovou-as largamente, pois aí estão: – a concentração e a centralização do Capital; – o caráter anárquico da produção capitalista; – a reiteração das crises periódicas; – as dificuldades crescentes para a valorização; – os problemas referentes à manutenção dos patamares das taxas de lucros; – a contínua reprodução da pobreza relativa e crescentes emersões de pobreza absoluta; – os processos alienantes e reificantes” (Netto, 1993, p. 36-37).
Tais situações acentuam o caráter de provisoriedade das políticas sociais nos marcos da ordem burguesa e, o esporte pode, quando muito, apenas contribuir no esforço de promoção de maior qualidade nas políticas desenvolvidas, nos serviços prestados. Serão sempre provisórias se não forem edificadas como estratégia dos trabalhadores.Por estratégia estamos compreendendo (e defendendo) um conjunto de ações que caminhem no sentido de transformação da atual realidade. Mudar a concepção de esporte tecnicista, trabalhar por uma concepção ampliada de esporte escolar como forma de atrair crianças e jovens para a cidadania e futura emancipação.Não é tarefa fácil, portanto, pensar nas especificidades das políticas sociais (como estratégia) quando se tem em mente que os objetivos maiores da mudança como plataforma política dependem da lógica de globalização econômica. Entretanto, ao encaminhar propostas de intervenção, temos claro que o campo de ação demarcado é restrito aos acertos democráticos nos quais, certamente, podem ser desenvolvidos mecanismos de criatividade e crítica por parte dos professores e estudantes de Educação Física.
O que significa o esporte como política social na sociedade moderna?
Este é um outro ponto de partida absolutamente fundamental para a mobilização consciente e estratégica a partir de políticas sociais elaboradas ou pressionadas por trabalhadores. O que deve ficar claro é que tais ações constituem apenas o início de uma longa jornada de revolução democrática.
Na sua opinião, o que deve ser um esporte democrático?



Esporte e Sociedade

Apresentação
O ensino de esportes vem sendo reformulado e transformado mundialmente. Países de primeiro mundo como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Inglaterra e França têm realizado investimentos em estudos e pesquisas, para que novas possibilidades de inclusão através da prática de esporte sejam evoluídas.No Brasil, já há algum tempo, cientistas do esporte e pedagogos da Educação Física têm colaborado neste tema, estando em contato direto com as novas abordagens científicas de ensino e desenvolvimento de esporte dentro de uma comunidade continental como a nossa. No entanto, a inclusão de mais praticantes de esportes, tanto jovens como adultos, perpassa por um novo olhar numa área altamente enraizada no modelo de performance baseado em movimentos tecnificados.Muitos dos professores de Educação Física, instrutores e monitores de esporte conhecem o chamado ensino tradicional ou tecnicista e o identificam como o que ensina as técnicas esportivas através da pura repetição de movimentos, exercícios, gestos e atitudes. Esta é uma visão estreita que precisa ser reformulada, pois o esporte comporta hoje uma totalidade de expressões humanas.Como um dos fatores de inclusão social, o esporte é um poderoso mecanismo de integração entre crianças e adolescentes, podendo ser considerado como ferramenta pedagógica na escola (ou fora do contexto escolar) dependendo das ações desencadeadas pelos professores, instrutores e monitores.Entendendo o processo educacional de maneira ampla e com sigtnificados abrangentes, o ensino de esportes não fica limitado a concepções de Educação Física; tampouco se limita ao ensino de técnicas esportivas.

Objetivo

O objetivo da criação deste blog é fortalecer a interação do nosso grupo, oferecendo informações , material didático e publicando trabalhos científicos dos profissionais de Educação física e acadêmicos da nossa cidade, com fim último de garantir ao educando um ensino de qualidade.

sexta-feira, 13 de junho de 2008